quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Inferno....

"E o diabo, que os enganava, foi lançado no lago de fogo e enxofre, onde está a besta e o falso profeta; e de dia e de noite serão atormentados para todo o sempre." [Apocalipse 20:10]

Já puxei o gatilho algumas vezes, acreditando que enviara o maldito que mecheu comigo para o inferno...acreditava que a falta de respeito para comigo era o mesmo que cuspir na face Dele, do criador deste grande safari que é Milão, Roma, Itália e todo o resto deste grande antro de animais que é este planeta...
Imaginava o inferno do modo que minha mãe dizia que era, um lugar para onde vai os meninos pecadores, que maltratam as irmãs e brigam com os pais, chutam os primos e roubam dinheiro para comprar cerveja escondido e fumar coisas ruins... ela dizia que era um lugar muito quente, mas que não tinha Sol, era rodeado por espinhos, por cães de três cabeças que te arrancavam os pedaços, que lentamente voltavam a crescer, gerando uma dor pior que a da ferida...
Nesse lugar, tudo que se fez em vida era "retribuido" pelos "pequenos chifrudos"...
Esse era o inferno que eu conhecia, descrito por minha mãe no alto dos meus onze anos, depois de ver-me entornando uma garrafa de vinho barato e com um canivete sujo de sangue numa das mãos, junto de uma carteira que não era minha... ela fez um escandalo, mas como estava com meu primo - Luigi "Bolacha" - ela acabou maneirando, apenas me puxando para casa pela orelha, enquanto gritava com "Bolacha" dizendo que ele deveria rezar a mudar de vida... (mal sabe ela que eu que o punha nesta vida...)
Quando mais velho, visitava o padre Pedro, um velho praticamente careca, adorado pelas senhoras do bairro, sempre muito gentil... ele me contou que o inferno era o que podiamos imaginar de pior, mas que por mais que imaginassemos, jamais seria a imagem verdadeira... ele acreditava que o inferno nada mais era que uma "lenda", já que todos podemos alcançar a redenção, as graças divinas, o perdão Dele... sempre fiz questão de ajudar o padre Pedro como podia... fosse dando uma grana aos domingos ou "limpando" as ruas próximas a igreja...
Tento pensar que o inferno não é nada do que me foi dito... seria algo muito ruim pensar nisso tudo... por que, aparentemente, é bem próximo dele que estou agora...

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Matar ou Morrer (pt. 03 de 03)

Um soco... um golpe rápido, desferido pelo braço, tendo como ponto de impacto o punho, normalmente fechado...
Máfiosos que brigam muito tendem a usar soqueiras, o que agrava um pouco mais o local de "pouso" do punho...
Não queria, não queria mesmo machucar meu primo... mas não deixou-me escolha...
O nariz provávelmente nunca mais será o mesmo, se é que vai voltar a ser usado... tamanha minha fúria, não dosei a força, e mesmo que fosse muito franzino, o impulso que dei para voar diretamente no nariz de Carlo definitivamente faria o mesmo estrago que
Rocky Marciano no auge da carreira...
Junto ao meu soco, foi todo meu peso para cima de Carlo, que mesmo sendo algo próximo a um gorila, caiu e bateu a cabeça de forma muito forte no chão, criando um "ovo" na parte de trás da cabeça... quando achei que continuaria no meu frenesi, sinto a força do couro italiano vindo diretamente na boca do meu estomago, um chute digno de
Bruno Conti ... o mal estar causado pela força do chute me faz encolher-me, como uma criança com medo, torcendo para que acabe logo esse tormento... a ultima coisa que sinto é o que acredito ser uma coronhada na nuca... apago....

Ópera... mente quem diz que todo italiano gosta de ópera... ou mesmo musica clássica... lembro de meu pai ouvir esse tipo de musica quando tinha momentos mais intimos com minha mãe... ou quando estava zangado demais por que o Giuseppe Chiappella escalava mal o
"Societa Sportiva Calcio Napoli" ...

"Volto a vida" ouvindo ópera, e se todo meu desgosto com a musica já não fosse o bastante, a gravação péssima de um
Luigi Denza definitivamente não ajuda a passar a sensação de ansia causada pelo chute no estomago... incrivelmente a dor na cabeça não era maior que a da boca do estomago...
Volto os olhos por todo o cubiculo em que estou "jogado", e nada vejo alem de pequenos filetes de luz vindos do teto... acredito estar no porão, ou em algo parecido com tal, já que o cheiro putrito das madeiras que do teto até o chão (pelo menos, até onde consigo enxergar) fazem deste cubiculo minha "gaiola" é algo realmente muito próximo ao cheiro de cadáver...

Pela primeira vez creio arrepender-me de ter feito algo sem pensar, sem medir as consequencias... "arrancar a cabeça dele e andar com ela na cintura..." por mil demonios... antes tivesse dado um tiro em minha própria cabeça...

Matar ou morrer, as vezes, realmente, não temos opção, e nesse caso, se realmente tivesse como escolher, definitivamente não sei qual a opção seria a menos pior...


(Fim da parte 03...)

Fim do primeiro capitulo