sábado, 22 de setembro de 2007

Matar ou morrer (pt. 1 de 3)

Milão 12/04/1980

"Agora, desçamos ao mundo das trevas"
Dante Alighieri - A Divina Comédia

Não penso duas vezes, assim que o velho Magnus deixa meu escritório, ligo para Carlo, meu primo mais velho e segurança nas horas vagas:
-Traz a "Vivian" (era como chamávamos a escopeta calibre 12) e o carro, vem sozinho e sem perguntas
-Só a Vivian?
-Se ele ficar de pé depois do beijo da Vivan, me considere um cara morto...
Desligo o telefone, tiro meu Armani e boto o agasalho velho da Adidas, dos tempos de batedor de carteira, dos tempos em que eu não era ninguém, dos tempos em que "fazer a garganta" de alguém era corriqueiro e muito necessário...
Eu tinha que me lembrar do quanto eu achava divertido ver um cara sangrar até a morte, as preces que fazia pedindo a Deus que não aceita-se o condenado no céu, nunca matei um inocente, apenas malditos que me deviam, viciados, estupradores que compravam cocaína para ficar de pé a noite inteira esperando sua próxima vitima... na realidade, eu estava limpando a cidade!
Menos de trinta minutos depois, me olho no espelho e vejo um garoto, diferente do homem de negócios, com ternos caros, eu estava um maltrapilho, a roupa ainda cheirava mal da ultima noite que a usei, devia ter uns seis meses que não usava isso... ainda tinha uma mancha de sangue.. me pergunto de quem era...
Carlo chega, me vê e apenas pergunta se deve ligar pra minha mãe... não comentei nada, apenas pedi para me levar a casa de Fillipo...
-Paolo... não vai fazer o que to pensando?
-Desde quando tu pensa?
-Paolo, tu é meu irmão praticamente, e eu sou mais velho... por favor cara, que que houve pra tu pensar em suicídio? Entrar lá assim, com uma Vivan embaixo do braço? "Bom dia Fillipo, vim te matar!", ta maluco???
-Apenas dirige até lá, cai fora pra casa da minha mãe... se até as 22hs eu não voltar, assume as broncas com a "Della Notte".
-Mas... -meu soco no nariz dele tem o poder de calar ele... ele é grande, mas sabe o que pirado sou eu...
Carlo dirige com apenas uma mão, a outra fica com um pano para tentar estancar o sangramento do nariz.. não queria machucar tanto assim, mas ele só para quando vê o próprio sangue em suas mãos...
No caminho até a casa de Fillipo, penso em tudo que me aconteceu nos últimos meses, vejo uns garotos batendo uma carteira e dou risada... o velho gordo jamais vai conseguir pegar eles...
Vejo garotas novas com calças enfiadas e penso que daqui uns dois ou três anos, se ainda não tiverem contraido a tal da AIDS, podem vir a trabalhar pra mim...
Penso que a uns meses atrás, eu morava no porão da casa dos meus pais, era fedido e quente, eu suava feito porco perto da morte e algumas vezes, realmente desejava isso...
Hoje, tenho praticamente uma cobertura para mim, muitas vezes eu tenho de usar casacos para ficar lá em cima fumando, falando para mim mesmo ou para Nubia que um dia, ainda terei em caixa o mesmo valor de estrelas que tem no céu...
Estou caminhando para a morte de braços abertos, por alguém que nem vale tanto a pena assim (já mencionei o quanto apanhei de meu pai bêbado?)...
Mas a tal "honra" na realidade tem servido de combustível para outro plano... uma ótima desculpa... quem teria coragem de se opor a mim depois que eu, um bosta metido a besta, invado a casa do maioral de Milão e lhe dou como último momento em vida um beijo da Vivian?
-Vou arrancar a cabeça dele e andar com ela pendurada na cintura...
-QUE??? Tu ta maluco Paolo????

Continua...



Um comentário:

Clau disse...

Impressão minha ou todos teus personagens tem um fascinio oculto por andar com cabeças penduradas na cintura??? rs